MANIFESTAÇÕES ORTOPÉDICAS DO ESCORBUTO – RELATO DE CASO
TEMA:
Ortopedia Pediátrica
FORMATO DE APRESENTAÇÃO:
Apresentação Oral
PALAVRAS-CHAVE:
Scurvy, escorbuto, ácido ascórbico, Ascorbic Acid Deficiency
INTRODUÇÃO
Escorbuto é uma hipovitaminose pouco frequente e possui um espectro variado de apresentações musculoesqueléticas e sistêmicas. Apesar de ser uma patologia de fácil tratamento, o atraso no diagnosticado pode levar a complicações como infecções generalizadas e hemorragias intracranianas.
RELATO DE CASO
Criança de 4 anos, espectro autista, com relato de dor, perda de força em membros inferiores e piora progressiva de deambulação. Ressonância de coluna torácica que evidenciou impregnação anômala em T1 e T6. Ressonâncias de coxas, joelhos e pernas evidenciaram edema ósseo em regiões metafisárias proximais e distais dos fêmures, tíbias e fíbulas, de distribuição bilateral e simétrica, associado a sinais de periostite em articulações dos joelhos. No 14° dia de internação, a criança apresentou epistaxe, aftas em lábios e petéquias em membros inferiores. Diante da história clínica (autismo com seletividade alimentar), das alterações radiológicas e do exame laboratorial evidenciando baixa de vitamina C, considerou-se a hipótese de escorbuto. Iniciado suplementação de 300mg/dia por 1 semana, seguindo de 100mg/dia por mais 3 meses, com rápida resposta clinica e melhora progressiva.
DISCUSSÃO
Vitamina C é adquirida essencialmente pela dieta por meio de frutas e vegetais escuros. O autismo é a condição mais presente na hipovitaminose C pela seletividade alimentar. Outras comorbidades aumentam o risco de escorbuto, como renais dialíticos, e má absorção gastrointestinal. A ingesta deficitária de vitamina C por 8 – 12 semanas pode acarretar escorbuto. As manifestações clínicas mais frequentes são musculoesqueléticas, entre elas, dor em membros inferiores, incapacidade de deambular, artrites, edema e claudicação. Raramente há sinovite, mas hemartroses são comuns. Com isso, os diagnósticos diferenciais variam entre osteomielite, artrite séptica, tumores ósseos. Outros sintomas podem ocorrer, tais como sangramento e hipertrofia gengival, petéquias e estigmas de desnutrição. A maioria das manifestações radiográficas ocorre nas metáfises. Os achados clássicos são linhas de Frankel, calcificação das metáfises, Anel de Wimberger, calcificação ao redor da epífise, Esporão de Pelkan, esporões metafisários, Zona de Trummerfel, área metafisária translúcida e osteopenia. Essas alterações aparecem de forma variada em cada paciente, mas apenas 7% deles não possui alguma delas. A RM mostra hemorragias subperiosteais e hipersinal em T2 da medula óssea na metáfise. A suspeita diagnóstica é estabelecida com os sintomas típicos e exames de imagem, mas apenas os níveis séricos baixos de vitamina C fecham o diagnóstico. Apesar de se tratar de patologia rara nos dias atuais, o ortopedista precisa estar atento à possibilidade deste diagnóstico, especialmente em crianças autista e com seletividade alimentar.