Introdução: A Lesão de Morel-Lavallée (LML) é uma entidade clínica comum descrita pela primeira vez em 1848 pelo cirurgião francês Victor Auguste François Morel-Lavallée e é compreendida hoje como o desenluvamento de tecido subcutâneo e pele sobre a fáscia muscular produzido por forças de cisalhamento típica em traumas de natureza contusa em regiões de protuberâncias ósseas e sua origem por um tumor de partes moles secretivas é rara.
Relato de caso: Paciente, sexo feminino, etnia negra, 51 anos, obesa é admitida em hospital terciário de Belo Horizonte, MG, no dia 28/04/2022 apresentando lesão cística elástica em região do quadril esquerdo previamente puncionada e recolecionada medindo 30cm em sua maior dimensão (30x5x10cm com volume estimado de 1,5 litros). Queixa de dor moderada em região lateral do quadril esquerdo dificultando a deambulação e impossibilitando deitar-se em decúbito lateral esquerdo. Nega tabagismo, nega etilismo, nega comorbidades e história familiar negativa para condições oncológicas. A hipótese diagnóstica foi de LML causando desenluvamento por secreção de tumor de partes moles. Paciente foi submetido à ressecção em bloco de partes moles no dia 30/04/2022 e o material foi enviado para estudo anatomopatológico para identificação da histologia do tumor. Alta fornecida no dia 01/05/2022 sem intercorrências durante sua internação.
Discussão: A LML é uma entidade clínica tipicamente atribuída ao politrauma ou ao trauma cirúrgico, apresentando similaridade a um seroma quando em menor volume. A história natural normalmente aponta para o carácter benigno e bom prognóstico dos pacientes, contudo, o volume da lesão e a característica recolecionante são incomuns e alertas para condições patológicas. Em uma revisão da literatura na base de dados MEDLINE utilizando os descritores ‘’Morel-Lavallee’’ e ‘’Hip injury’’, foram encontrados um total de 32 artigos. Após a segunda filtragem, foram selecionados 18 artigos com o critério inclusão sendo, publicação após 2015. Em estudo multicêntrico de 8 anos de duração, foi visto a prevalência da LML em 0,7% dos traumas automobilísticos e em 12,2% das fraturas pélvicas. A indicação de abordagem cirúrgica se restringe a lesões crônicas e com formações complexas intracísticas, sendo demais casos tratados com compressões ou drenagem com agulhas de 12 a 14 French (French X 0,33=mm) em casos nos quais for optado pela terapia minimamente invasiva. Desse modo, as LML devem ser tratadas com devida atenção e não deve ser descartada a hipótese de lesões oncológicas como a causa em casos de recolecção ou cistos complexos, sendo necessária a citologia do líquido e a biópsia da lesão.